A produção do etanol mudou a história do Brasil. E a evolução da forma como produzimos esse combustível foi essencial para convencermos o mundo de que a cana-de-açúcar é um elemento imprescindível para suprir a demanda crescente por energia renovável. Se há um leque crescente de novas aplicações para o nosso etanol – como matéria-prima ou aliado da descarbonização – é porque existe confiança de que a oferta desse biocombustível seguirá sendo feita de forma cada vez mais eficiente e sustentável.

Enquanto escrevo esse artigo, é bem provável que alguma universidade ou centro de pesquisa tenha descoberto uma nova utilidade para o etanol.Em breve, poderemos ter aeronaves comerciais movidas por combustíveis que utilizam como base o etanol. O hidrogênio, que desponta como uma solução definitiva para zerar as emissões provenientes do transporte pesado, que inclui ônibus e caminhões, também pode ser obtido a partir do etanol.

É em meio a esse repertório de tecnologias futuristas que a sociedade em geral costuma situar aquilo que chamamos de sustentabilidade. No entanto, esse cenário de possibilidades envolvendo o nosso principal biocombustível começa no campo, onde a ciência tem nos proporcionado sucessivos ganhos de produtividade, sem aumento significativo de área cultivada. E cada avanço nessa direção demanda atenção a um dos pilares do setor sucroenergético: a relação com produtores de cana-de-açúcar.

Poderia citar muitos marcos relevantes nessa trilha de evolução contínua, mas o mais importante é a construção de um ambiente de confiança mútua e de apoio ao produtor rural. Isso começa pela atenção à diversidade de expectativas e necessidades em diferentes regiões, com a preocupação permanente de buscarmos novas oportunidades de geração de valor, a exemplo do que tem sido feito com a importante questão da sucessão familiar na cadeia da cana.

Ampliar o acesso a crédito com condições justas, criar soluções para baratear a aquisição de insumos e equipamentos, disponibilizar ferramentas de gestão, compartilhar novas técnicas de manejo e facilitar o acesso a plataformas que desburocratizam e reduzem o tempo de emissão das Cédulas de Produto Rural (CPR) são outros bons exemplos de iniciativas que grandes empresas sucroalcooleiras têm desenvolvido para benefício do fornecedor de cana.

E fico satisfeito em poder afirmar que todas essas vantagens estão cada vez mais relacionadas com a necessidade que temos de atender padrões globais cada vez mais rigorosos de qualidade e sustentabilidade para o açúcar e o etanol. É impraticável assumirmos esses compromissos sem o envolvimento direto de quem produz a matéria-prima. Mas esse engajamento só se estabelece em um ambiente de negócios saudável, com estímulo e transparência.

Nesse sentido, a criação de programas que integram suporte ao produtor, ao mesmo tempo em que promovem a qualificação da cadeia da cana e estimulam as melhores práticas socioambientais no cultivo, têm se mostrado uma estratégia extremamente viável. Um desafio para as empresas que dependem dessa matéria-prima e que apostam nesse tipo de plano é fazer com que esses programas estejam presentes e sejam percebidos em diferentes regiões, com o mesmo padrão de atendimento. 

É dessa forma que conectamos o produtor de cana com o futuro que desejamos – um cenário no qual a oferta de biocombustível, produzido de forma cada vez mais eficiente e sustentável, continuará impulsionando novas descobertas e a transição energética necessária para uma economia de baixo carbono. Ainda temos muitas lições a assimilar, mas já compreendemos que a nossa capacidade de fortalecer e ressignificar a relação com fornecedores de cana pode ser tão transformadora quanto uma grande descoberta científica.

*Ricardo Berni é diretor de Agronegócios da Raízen (www.raizen.com.br), maior produtora brasileira de etanol.

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