O Marrocos recebeu na ultima semana o primeiro carregamento de gado vivo do Brasil. Foram embarcadas 2.800 cabeças de gado do estado do Pará, que chegaram ao país árabe pelo Porto de Jorf Lasfar, na costa do Atlântico, a sudoeste de Rabat. Outros 3.000 bois vivos devem desembarcar no mesmo porto em 08 de abril.

Segundo Felipe Heimburger, chefe do Setor Econômico e Comercial da Embaixada do Brasil em Rabat, a abertura de mercado para gado vivo do Brasil ocorreu no início deste ano. “O certificado veterinário internacional foi aprovado em janeiro, durante uma missão da autoridade sanitária marroquina ao Brasil, que se reuniu e fez o acordo com o Mapa”, disse Heimburger.

“Desde outubro do ano passado, o Marrocos já queria importar boi vivo do Brasil porque eles passam por uma seca sazonal e a criação local fica prejudicada. Além disso, o consumo de carne durante as noites do Ramadã aumenta”, lembrou o diplomata. O Ramadã é o período sagrado do islamismo, no qual os muçulmanos fazem jejum durante o dia, mas promovem ceias coletivas depois do pôr do sol.

Para incentivar as importações e garantir o abastecimento do país, o Marrocos zerou a tarifa para 30 mil cabeças de gado até dezembro deste ano. A cota é válida para qualquer país com que tenha relações.

“Com a tarifa zero, o exportador brasileiro ficou estimulado a atender o mercado marroquino. Os bois que chegaram são um cruzamento de Zebu e Angus, é a primeira vez que o gado brasileiro Zebu entra aqui, o marroquino não conhecia muito bem o Zebu”, contou Heimburger. Os animais foram para abate imediato nos frigoríficos locais.

Dia 8 de abril chega o segundo lote, com 3.000 animais, também pelo Porto de Jorf Lasfar, que fica na cidade de Al Jadida. “É de onde sai o fosfato, o fertilizante que vai para o Brasil. Utilizaram essa rota e o navio volta com os animais”, informou o diplomata. Desses, 1.500 animais irão para o abate imediato, e outra metade vai para engorda nas fazendas locais.

Somando os dois carregamentos, são 5.800 animais do Brasil. A expectativa é que os compradores árabes façam novas encomendas de animais brasileiros, pela cota de 30 mil cabeças. “A Espanha usou a cota com 3.500 animais, o Uruguai usou um pouco também, mas ainda tem espaço daqui até o meio do ano para, se o exportador brasileiro quiser, mandar até 20 mil cabeças. Tem a demanda”, disse. Segundo Heimburger, é mais barato importar do Brasil [do que da Espanha] e o País tem boa imagem agropecuária no Marrocos. “Agora, o Brasil consegue concorrer em pé de igualdade com a Europa”, declarou.

Primeiro gado vivo, depois carne

Heimburger explicou que o incentivo fiscal para o gado vivo pode ser um ponto de partida para a entrada da proteína animal brasileira no Marrocos, tanto em cortes congelados como a carcaça inteira, em um segundo momento. “É um mercado que vai significar a entrada da proteína animal do Brasil. É onde queremos chegar. Na verdade, queremos diminuir a tarifa para todo o setor da proteína, porque hoje a carne bovina congelada desossada tem uma tarifa de 200%, é uma barreira tarifária e eles têm alguns mecanismos, algumas cotas que podem utilizar”, informou o diplomata. No caso do frango congelado, a tarifa é de 93%. “Isso, na prática, tira o produto brasileiro do mercado pelo protecionismo”, disse.

O Exército marroquino compra 6 mil toneladas de carne sem tarifa, enquanto o setor privado faz pressão no governo para que o imposto diminua. “Acho que no final das contas vai acontecer. Acredito que com essa confiança sendo construída entre os exportadores brasileiros e os importadores marroquinos, vamos achar uma cota de tarifa zero também para a carne congelada. O Brasil é confiável e tem regularidade na entrega e vai ajudar na segurança alimentar do Marrocos”, acredita.

O país árabe não é autossuficiente na agropecuária e apesar de ter grande rebanho de carneiros e alguma criação de aves e bovinos, depende da importação inclusive para alimentar os animais e compra soja e milho do Brasil.

“Será uma parceria ganha-ganha, porque vai ser bom para o consumidor marroquino e para o exportador brasileiro [a venda de carne brasileira]. O Marrocos é um mercado importante, são quase 40 milhões de habitantes e um mercado promissor para a carne bovina”, disse.

De 2 a 7 de maio acontece o Salão Internacional de Agricultura do Marrocos (SIAM 2023) e pela primeira vez a Embaixada do Brasil em Rabat irá participar do evento com um estande, com o apoio do Mapa. “Já temos 13 empresas confirmadas dos setores de carne, alimentos e maquinário agrícola”, contou Heimburger, que está há dois anos e meio no posto.

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