Com capacidade de produção de 1,34 milhões de litros/dia a atividade leiteira em Mato Grosso do Sul sofre com redução de 47% no volume desde 2016, de 338 para 174 milhões de litros/ano. No momento o setor vive uma estabilização na produtividade. Atualmente o rebanho varia de 150 a 160 mil cabeças. Para mudar a realidade o Estado precisa passar por mudanças estruturais que vão da profissionalização da atividade, investimento em tecnologia, entre outras ações.

A afirmação foi feita pelo secretário-executivo de Desenvolvimento Economico, Rogério Beretta que foi um dos debatedores do Seminário Estadual do Leite que foi realizado na tarde de ontem (30) na Assembleia Legislativa, com o tema com o tema: Desafiando Gestores e Criando Oportunidades, que integra as ações da Semana Estadual do Leite. O evento é uma iniciativa da Frente Parlamentar do Leite em parceria com a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Estado e a Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc)..

“A pecuária leiteira de MS precisa passar por mudanças estruturais. Nós precisamos de um choque de profissionalização e entendemos que investimentos importantes precisam ser feitos. Então o Governo está pronto para lançar agora o Pró-Leite que é o plano estadual de fomento a pecuária leiteira e neste plano trazemos uma série de medidas para melhorar o ambiente. Dentre as propostas estão a desoneração tributária e o melhoramento genético, por exemplo", antecipou Beretta. O objetivo do Plano, segundo ele é fortalecer a cadeia produtiva do leite, por meio da organização dos seus elos e tornar a atividade socialmente justa e sustentável.

“A cadeia produtiva do leite pede socorro”, resumiu o deputado Renato Câmara (MDB), que é o coordenador da Frente Parlamentar do Leite e proponente do seminário. “Precisamos discutir saídas em um momento em que o setor passa por muitas dificuldades, com queda na produção. Precisamos criar políticas públicas eficientes em um contexto de muitos desafios”, disse, adiantando que há, no Estado, a gestação de um plano para o fomento da cadeia do leite. “O Governo do Estado está estudando propostas para apresentar um plano de recuperação da cadeia produtiva do leite”, afirmou.

E isso ocorre em um momento em que a demanda mundial por leite tem aumentado, conforme discutido no evento. O assunto foi debatido e aprofundado em três palestras, que trataram sobre o cenário atual de produção do leite, tendências de consumo e um caso de sucesso em Mato Grosso do Sul.

O seminário contou com a presença de prefeitos, vereadores, representantes de entidades de classe, produtores rurais, empreendedores do setor lácteo, representantes de cooperativas e de associações, acadêmicos das universidades Estadual e Federal de Mato Grosso do Sul (Uems e UFMS). No plenário especial, entre outras autoridades, esteve presente o deputado Junior Mochi, que é autor da Lei 4.409/2013, que instituiu a Semana Estadual do Leite.

A mesa de autoridades foi composta, além do deputado Renato Câmara, pelo secretário-executivo da Semadesc, Rogério Beretta, pelo diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Washington Willeman de Souza, pela representante do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul), Paula Martins, pelo representante da Associação Brasileira dos Criadores de Leite (Abraleite), Ronan Salgueiro, e pelo diretor de Fomento e Eventos da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Marcelo Renk Real.

Leite a caminho da exportação e MS e o Brasil produzindo pouco

Na primeira palestra da tarde, intitulada “Panorama do mercado do leite do Brasil”, o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Samuel José de Magalhães Oliveira, doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), apresentou cenário de produção e produtividade baixas do leite em Mato Grosso do Sul e no País.

Conforme números e estimativas da Embrapa apresentados pelo pesquisador, com base em dados da Food and Agriculture Organization (FAO), o Brasil produzia, em 2020, 97 milhões de litros de leite por dia. Eram 1,14 milhão de produtores, com produção média diária por propriedade de 85 litros. Em Mato Grosso do Sul, com 12 mil produtores, eram produzidos 67 litros por dia por propriedade e produção média total diária de 800 mil litros.

Os resultados do Estado e do País são modestos diante do que o mundo apresenta. A Argentina, por exemplo, conforme frisado por Samuel José, tinha no mesmo período (2020), 10.410 produtores (menos que Mato Grosso do Sul) e produzia, diariamente por propriedade, 2,8 mil litros de leite. No total, o país vizinho produz 29 milhões de litros por dia.

Adotar tecnologias para aumentar a produção e a produtividade é fundamental em um quadro de transformações do mercado do leite. De acordo com o pesquisador da Embrapa, o leite tem se tornado, cada vez mais, um produto de exportação. “Muitos se enganam ao acreditar que o leite é simplesmente um produto que atende o mercado interno. Ano após ano, a participação da exportação no total de leite produzido no mundo está aumentando, já passando dos 25%”. Ele finalizou com otimismo, dizendo ser possível avançar na produção nacional e estadual do leite. “Mato Grosso do Sul é um estado pujante, capaz de viabilizar desenvolvimento, de aumentar a produção do leite”, disse.

Produção atenta às tendências de consumo

O aumento da produção também depende da outra ponta da cadeia: o consumo. Esse foi o tema discorrido pela médica veterinária Heloíse Duarte, proprietária da Empresa de Inteligência de Mercado ICOW e especialista da “Beba Mais Leite” de Belo Horizonte (MG). Ela proferiu a segunda palestra do evento. Entre os fatores que fomentam o consumo estão, de acordo com a pesquisadora, o crescimento econômico e de renda, preços de produtos, informações (dos amigos, internet, etc.), certificações e busca de estilo de vida mais saudável. A veterinária destacou esses dois últimos fatores.

Heloíse Duarte falou, de modo especial, sobre o leite com o selo A2, certificação de produtos obtidos a partir de animais selecionados e capazes de produzir apenas a chamada “beta-caseína A2” (proteína do leite, que facilita a digestão desse alimento pelos seres humanos). Essa certificação é um dos caminhos possíveis para atender consumidores com tendência de buscar produtos melhores para a saúde em um cenário de crescimento de renda. Conforme dado informado por Heloíse Duarte, 67% das pessoas se dizem dispostas a pagar mais por produtos mais saudáveis.

“É preciso aproximar a produção do que o consumidor deseja, estar na linha de tendência do mercado. Também é preciso diminuir o custo de produção sem prejudicar o meio ambiente. É complexo o que o mundo pede, mas é possível ser feito. E estamos falando de um alimento tão nobre e muito buscado no mundo todo”, considerou a especialista. Ela ainda notou que hoje “o consumidor está mais atento, lê rótulos, questiona a origem e a produção do alimento”.

Produtividade em nível argentino e alta rentabilidade

Atenção à sustentabilidade e às tendências mundiais do mercado fez de um produtor rural de Mato Grosso do Sul uma referência. Lineu Pasqualotto, sócio-diretor da Agropecuária Missões, em Dourados, falou de sua experiência e apresentou números que mostram a possibilidade de ganhos significados em uma cadeia, que tem apresentado, no estado, uma trajetória de quedas anuais constantes.

O produtor rural informou que uma das preocupações centrais em sua propriedade é o bem-estar animal. Como exemplo, ele disse que todo seu rebanho é mantido no sistema compost barn, modelo em que as vacas ficam em um espaço coberto e com o chão revestido de serragem e a produção é feita com custos reduzidos de manutenção e com melhores índices produtivos.

Pasqualotto tem, na propriedade, 306 vacas, todas leiteiras, das quais 146 (48%) estão em lactação. São ordenhadas, por hora, de 85 a 90 vacas dentro de um programa de bem-estar animal. Diariamente, são produzidos, em média, 2.190 litros de leite. Essa é uma produtividade de nível argentino.

O resultado é uma renda expressiva para a realidade do setor leiteiro estadual e nacional. Com custo de R$ 1,97 por litro de leite, Lineu Pasqualotto tem (apenas com a produção da pecuária leiteira) receita líquida diária de R$ 410,70 e mensal, de R$ 12.321. Por ano, o ganho é de R$ 659.540 considerando os movimentos da pecuária leiteira e do laticínio. Esse lucro corresponde a R$ 18.844 anuais por hectare. Não há muitos segredos no caminho para esses resultados. "Fazer direito, cobrar de si mesmo, buscar fazer o melhor", afirmou o produtor.

Com informações da Assembleia Legislativa

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