Inevitável: Impeachment ganha força no PMDB depois dos protestos de domingo
Os grandes protestos de domingo praticamente garantiram as chances de abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, ao empurrar hesitantes parlamentares do PMDB a apoiarem o impedimento da presidente, disseram fontes do partido.
O PMDB, o maior partido da coalizão de governo de Dilma, está propenso a votar contra a presidente na tramitação do processo de impeachment no Congresso.
O grande comparecimento nas manifestações de domingo, disseram três importantes fontes do partido, afetou o equilíbrio dentro do influente, mas dividido, PMDB. Multidões foram às ruas em todo o país para pedir a saída de Dilma, contra a corrupção e em apoio à operação Lava Jato.
"O impeachment é inevitável. Eu acho que não tem mais volta, não tem mais como o governo se salvar. Se fosse em um regime parlamentarista, o governo já tinha caído", disse um dos líderes do PMDB, que é próximo ao governo e falou sob condição de anonimato.
Apesar do partido ser notoriamente inconstante, sem ideologia clara e com um longo histórico de pender para o lado que o vento político está soprando, o PMDB tem se mostrado cada vez mais relutante em manter o seu apoio a Dilma.
Na convenção nacional no sábado, o PMDB decidiu adiar em 30 dias a apreciação de moções que pedem a saída do partido do governo, mas proibiu seus filiados a assumirem postos no governo federal durante este período. Mas muitas variáveis podem ainda afetar a situação política de Dilma.
Um importante grupo dentro do PMDB, reunindo parlamentares do Estado do Rio de Janeiro, governado pelo partido, ainda dá apoio ao governo federal. Dilma tem boa relação com o governador fluminense Luiz Fernando Pezão, que conta com os recursos federais para muitos projetos em andamento.
Além disso, existe a possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um negociador hábil e aliado de longa da data do PMDB, assumir uma pasta no governo Dilma e ajudar a acalmar as tensas relações.
Mesmo assim, depois dos protestos de domingo, autoridades do PMDB afirmaram que podem estar prontos para votar formalmente pela saída de Dilma até o fim de maio, ou mesmo mais cedo. O pedido de impeachment, apresentado no ano passado, busca tirar a presidente do cargo devido a irregularidades contábeis no orçamento do governo. Dilma tem dito repetidas vezes que o processo de impeachment não tem base.
Os líderes do PMDB afirmaram que os protestos influenciaram membros do partido porque confirmaram recentes pesquisas de opinião mostrando que a maioria dos brasileiros quer ver o impeachment de Dilma.
Em discurso no Senado, Romero Jucá, vice-líder do PMDB, chamou as manifestações de “alarmantes, decisivas e explícitas em mostrar a vontade da vasta maioria dos brasileiros”.
Líderes do partido afirmam que senadores do PMDB que apoiaram o governo até dias atrás mudaram de posição. Para a presidente, o apoio no Senado é crucial porque até agora a casa tem sido mais leal ao governo do que a Câmara dos Deputados.
UMA QUESTÃO DE TEMPO
De acordo com uma consultoria de Brasília, a Arko Advice, o impeachment de Dilma é apenas uma questão de tempo.
"As manifestações são uma confirmação de que a presidente da República perdeu as ruas em um momento em que não controla nem a economia nem a política", disse o cientista político Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice.
Ações brasileiras e o real subiram nas últimas semanas, com investidores apostando que uma mudança de governo pode melhorar os negócios e a confiança do consumidor. Nesta segunda, no entanto, o real e as ações caíram diante das dúvidas de como seria um governo pós-Dilma. Se a presidente Dilma for impedida, assume o vice-presidente, Michel Temer (PMDB).
Uma outra consultoria, a Oxford Economics, disse que um governo comandado pelo PMDB poderia acelerar as reformas estruturais e interromper o declínio brasileiro, embora somente uma mudança de governo pode não ser suficiente para uma recuperação.
Enquanto investidores especulam, o governo espera reunir o que resta da sua base de apoio, historicamente os sindicatos e outros grupos de esquerda. Alguns grupos convocam manifestações para defender o governo na sexta-feira.
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