Na última quarta-feira (18), mais de 60 indígenas estiveram na Câmara dos Deputados e entregaram uma carta com reivindicações e reclamações contra a representatividade de organizações não governamentais (ONGs) e com as políticas indígenas aplicadas pelo governo federal. De acordo com o documento, as entidades e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) insuflaram a população indígena contra eles mesmo e se utilizaram dos grupos para se manterem  no poder.

 

Os índios dizem ainda que as propostas promovidas pelas entidades não saíram do papel e pedem que seja criada uma linha de crédito para quem deseja produzir, com objetivo de garantir a autonomia dos povos na agricultura a partir do escoamento da produção, do plantio com qualidade e da geração de renda para melhorar a qualidade de vida das comunidades indígenas brasileiras.

 

“A nossa comunidade está preparada para progredir. Temos condição de discutir de igual para igual, assim como os produtores. Precisamos é de oportunidades”, disse Marcelo Lins, da tribo Ofayé (MS).

 

O encontro contou com a participação de membros da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Advocacia -Geral da União (AGU).

 

Realizado por meio de uma Audiência Pública, o encontro é uma oportunidade de dar voz a essas comunidades, sem intermediários, para identificar os anseios e necessidades. A iniciativa foi liderada pelo presidente da FPA, deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT), para debater a produção agrícola indígena no Brasil.

 

“Aqui é o início de uma luta. Não vale mais debater deputado contra deputado, partido contra partido, ONG contra ONG. O que nós queremos é esta nova história escrita com a caligrafia de vocês, indígenas”, afirmou Leitão.

 

Segundo o líder indígena, José Ângelo, da tribo Nambiquara, de Rondônia (MT), há 20 anos, a comunidade já atua com projetos agrícolas. Para ele, a cultura e tradição não tem ficado de lado em momento algum. “Cultura indígena não é rótulo. Não somos alegoria. Temos que ser vistos como cidadãos, como índios produtores”, destacou o líder.

 

Em seu depoimento, Edinária da etnia Guajajara, liderança indígena do Maranhão, contestou que a verdadeira voz está na aldeia e a terra para os índios é uma questão espiritual. “Precisamos sim ser consultados, mas uma consulta verdadeira. Temos indígenas se alimentando de lixão no município de Grajaú (MA). Queremos dignidade”. A indígena ainda complementou que os índios querem condições para produzir com suas riquezas. “Já ouviu plantar terra com terra? Não se faz agricultura sem semente, sem manejo”, finalizou.

 

O presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, deputado federal Sérgio Sousa (PMDB/PR), se comprometeu a encaminhar ao governo federal um documento final sobre a audiência. “O Executivo precisa conhecer a posição das comunidades indígenas, do Legislativo, para a tomada de medidas necessárias”, defendeu o parlamentar.

 

Entidades sul-mato-grossenses voltadas para a produção agrícola também estiveram presentes no encontro. De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS), Christiano Bortolotto, os indígenas que estão um pouco mais próximos da cultura e civilização urbana querem produzir e buscar outro meio de vida para se desenvolver.

 

“Muitos deles querem desenvolver a produção, seja de mandioca, milho, frango, para se viabilizarem e entrar na economia formal, com acesso às tecnologias, informações e as mesmas condições que nós, produtores, temos para produzir. Eles enfrentam uma série de dificuldades e nós procuramos dar algum apoio com o conhecimento que temos. Os sindicatos rurais, através do Senar/MS, disponibilizam cursos de qualificação para eles terem uma produção mais sustentável e rentável”, disse.

 

Bortolotto também destacou a importância da promoção do consumo da produção agrícola indígena. Para ele, o Estado tem de estar atento a estas demandas, para que eles produzam dentro de suas reservas e que tenham condições não só de produzir, mas de comercializar para, assim, deixar o assistencialismo e entrar na atividade econômica.

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