Dia Mundial da Água: natureza tem “reservatório invisível” de soluções para enfrentar ameaça climática
No mundo da emergência climática, o futuro da água e o nosso futuro se tornam incertos. É simples entender. Os recursos hídricos são o meio pelo qual o aquecimento global influencia os ecossistemas da Terra, o modo de vida e o bem-estar da humanidade. Já somos testemunhas dos efeitos negativos de extremos do clima. Secas mais severas ou enchentes avassaladoras estão cada vez mais presentes no cotidiano do Brasil e do mundo. Há luz no fim do túnel? Segundo o último relatório do IPCC, divulgado nesta semana, sim.
Há dinheiro e soluções para enfrentarmos o problema, garantem os cientistas, mas só agindo agora poderemos garantir um futuro sustentável e habitável para todos. O compilado de estudos científicos mais avançados sobre o tema, que busca informar os tomadores de decisão, moldar as negociações da ONU e mobilizar a opinião pública sobre o tema, traz dois recados claros. De um lado, é urgente eliminar os combustíveis fósseis, principais causadores do efeito estufa; do outro, precisamos fortificar a natureza, maior aliada do homem na luta climática.
Segundo o IPCC, a natureza absorveu 54% das emissões de dióxido de carbono relacionadas ao homem nos últimos 10 anos: 31% é removido por ecossistemas terrestres, incluindo plantas, animais e solos, e os outros 23% são absorvidos pelo oceano. É possível expandir esse potencial de proteção dos ecossistemas se governos passarem a investir intencionalmente na natureza. Os benefícios são inúmeros, principalmente para as cidades, que concentram mais da metade da população mundial e estão sujeitas a riscos, como elevação do nível do mar, ondas de calor e tempestades fortes e volumosas que causam enchentes mortais.
Construir parques lineares na margem de córregos e rios para minimizar os impactos das inundações e aumentar a cobertura de árvores e vegetação para reduzir as ilhas de calor são exemplos do pacote de soluções de “infraestruturas verdes” capazes de não só aumentar a absorção de gases nocivos mas também de adaptar os centros urbanos aos perigos de um mundo em aquecimento.
Essas intervenções fazem parte das chamadas Soluções Baseadas na Natureza – ou simplesmente SBNs. Cunhado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o termo carrega um leque de medidas simples e econômicas que beneficiam a sociedade, o ambiente e a biodiversidade. O tema estará em debate durante um dos eventos mais importantes desta geração: a Conferência da ONU sobre a Água.
Depois de quase quatro décadas, as Nações Unidas voltam a realizar uma grande conferência com objetivo de definir ações e estratégias para alcançar os objetivos e metas internacionais acordados sobre os recursos hídricos e aquelas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ODSs).
O mundo está atrasado em muitas delas, incluindo a implementação do ODS 6 — assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas as pessoas — crucial para o alcance dos demais objetivos, como os de saúde, alimentação, igualdade de gênero, educação, subsistência, indústria, clima e meio ambiente. A Conferência da ONU sobre a Água acontecerá na cidade de Nova York entre os dias 22 e 24 de março de 2023, e reunirá especialistas, gestores públicos, ONGS e empresas ligadas ao setor de saneamento.
Por Vanessa Oliveira, do Um Só Planeta
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