O mercado de gado para reposição, após um período de negócios lentos, seguido de leve melhora nos volumes comercializados, voltou a encontrar resistência por parte dos compradores e, praticamente, está paralisado em algumas praças de comercialização do boi gordo.

Os preços, ao mesmo tempo, recuaram movidos pela insegurança do pecuarista frente aos episódios da Operação Carne Fraca, deflagrada no último dia 17 de março pela Polícia Federal, e, posteriormente, da delação dos dirigentes do grupo JBS.

Por conta desse cenário, que freou os negócios, a situação de incerteza dos compradores quanto ao futuro das cotações do boi gordo também pode ter efeitos negativos na intenção de confinamento, com reflexos diretos no mercado do boi magro.

Fora os eventos recentes, o diretor técnico do IEG/FNP José Vicente Ferraz afirma que a demanda por carne também vinha sendo afetada negativamente pela crise econômica que derrubou o poder aquisitivo dos consumidores, o que, indiretamente, prejudica o mercado da reposição, ainda que o ciclo produtivo dos bovinos seja maior.

PREÇOS

Segundo Ferraz, havia uma tendência (identificada desde o ano passado) de acomodação dos preços, já que se esperava uma maior oferta e o mercado já registrava uma demanda mais restrita devido à crise econômica que se refletia em consumo menor e, consequentemente, também uma demanda menor por animais de reposição.

"Com os eventos recentes da Operação Carne Fraca e das delações dos controladores do grupo JBS, as perspectivas de possível recuperação econômica e consequente melhora do consumo foram afetadas negativamente", afirma o executivo, acrescentando que "é provável que tenhamos nos meses futuros mais quedas de preço que se somem às que já ocorreram nas últimas semanas".

Em sua opinião, os recriadores e os invernistas (incluídos os confinadores nesta categoria) estão muito inseguros quanto ao futuro, assim como toda a sociedade brasileira.

"Em uma situação como essa, a retração é uma reação absolutamente natural e isto impacta direta e negativamente na demanda por animais de reposição", explica o diretor do IEG/FNP.

Ele acrescenta que, em decorrência do quadro atual, os preços do gado, seja no mercado da reposição como no mercado físico do boi gordo, já registraram quedas, e seu desempenho, no curto prazo, depende muito de como vai evoluir a conjuntura política que tem afetado a economia.

Em curto prazo, Ferraz acredita que pode haver uma correção positiva mínima, decorrente de um eventual exagero nas quedas verificadas no calor da crise, "mas uma recuperação mais consistente e sustentável depende de se estabelecer um mínimo de previsibilidade sobre o futuro do país, o que parece um cenário mais provável para médio prazo".

BAIXA DEMANDA

Para Breno de Lima, analista de mercado da Scot Consultoria, o cenário pouco animador no mercado do boi gordo, devido às quedas nas cotações e às incertezas em relação ao futuro da arroba, afasta compradores de animais de reposição. Diante desse quadro de baixa demanda no mercado de reposição, ele diz que poucos negócios ocorrem.

"Nem mesmo o incremento na oferta de bezerros, sazonalmente comum nesta época do ano, por causa do período de desmama, consegue aquecer o mercado", ressalta.

As cotações para o mercado de reposição estão em baixa. Na média, de todas as categorias de machos e fêmeas anelorados pesquisadas pela Scot Consultoria, as referências recuaram 4,7% desde o início do ano. Conforme Lima, as cotações das categorias mais jovens foram as que mais cederam.

O bezerro de 12 meses (7,5 arrobas), por exemplo, teve recuo de 5,9%, enquanto o bezerro de desmama (6 arrobas) registrou queda de 5,3%.

"O momento é de cautela para o pecuarista que pretende negociar animais de reposição. É importante estar atento às oportunidades do mercado", avisa.

Para o analista da Scot, com o preço da reposição caindo mais que a arroba do boi gordo, a relação de troca está mais favorável este ano.

"Em São Paulo, por exemplo, são necessárias 7,55 arrobas de boi gordo para a compra de um bezerro de desmama (6 arrobas).

Há um ano, eram necessárias 8,48 arrobas, ou seja, há uma melhora de 11,0% no poder de compra", compara e acrescenta: "ainda assim, as incertezas quanto ao boi gordo e à conjuntura demandam atenção".

RELATO DO PRODUTOR

Diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Alberto Werneck Figueiredo, que também é secretário de Agricultura e Pecuária de Resende, (RJ), destaca seis pontos de um relato que ele ouviu de um criador de gado de corte, sobre o mercado do boi.

(1) – O mercado do boi gordo está confuso, uma parte por conta do efeito da Operação Carne Fraca, que colocou alguns frigoríficos em observação, diminuindo a demanda.

Mais recentemente, com os problemas do grupo J$F (JBS), a insegurança aumentou, e quem tem boi gordo fica na dúvida na hora de vender.

(2) – Diminuindo o número de compradores, aumenta a oferta e os preços do boi gordo caem.

(3) – Com essa insegurança, os produtores não fazem reposição. Com isso, esse mercado está estagnado, diminuindo gradativamente o preço do gado de reposição.

(4) -Paralelamente, a crise econômica e o desemprego forçaram os consumidores a reduzirem o consumo de carne de boi, coincidindo com as dificuldades de exportação, por conta da Operação Carne Fraca.

(5) – Assim, o mercado está trabalhando com um volume de negócios menor do que o normal, afetando toda a cadeia produtiva.

(6) – Não se pode descartar que concorrentes internacionais do Brasil no mercado de carne de boi tenham provocado situações que fizeram com que nós brasileiros, ingênuos, caíssemos na armadilha, nos complicando no mercado internacional que era crescente.

 

Sociedade Nacional de Agricultura 

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