Debate sobre a preservação do Pantanal começa em Campo Grande
Preocupados com a preservação ambiental do Pantanal, um bioma que cobre parte de dois estados brasileiros e um país sul-americano, o instituto SOS Pantanal, em parceria com a Assembleia Legislativa e o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, iniciou, na tarde desta terça-feira (9), no plenário da Casa de Leis, em Campo Grande, o 1º Seminário Internacional Pantanal, Okavango e Everglades – Desafios e Oportunidades. O evento, que terá um segundo encontro em Cuiabá na próxima quarta-feira (10), visa mostrar exemplos e estudos realizados em outras localidades parecidas ao redor do mundo. Participaram desta edição o diretor de marketing da Wilderness Safaris, maior empresa de turismo da África do Sul, Christopher Roche, do professor e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Fábio de Oliveira, do diretor executivo do Instituto SOS Pantanal Felipe Dias e do pesquisador da empresa Sigga Consultoria Ambiental Eduardo Reis Rosa, do secretário de Estado de de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar Jaime Verruck, deputados estaduais e autoridades locais.
O presidente do Instituto SOS Pantanal, Roberto Klabin, destacou a importância deste evento na apresentação de ferramentas que contribuam com um melhor planejamento do pantanal. Ele ressaltou que a proposta dos debates não é ensinar o que é preciso fazer para cuidar do bioma, mas conhecer experiências boas e ruins para que possam ser criadas condições de um futuro melhor para a região. Ele lembrou ainda que apesar das dificuldades e complexidades do país, é preciso iniciar um movimento para expor os problemas existentes e encontrar uma solução mais profunda, evitando tratar do assunto de forma irresponsável ou em curto prazo.
“Vamos debater os casos de sucesso, vamos falar sobre ferramentas, sobre imagem de satélite que a gente promove a cada dois anos e vamos mostrar que ferramentas não faltam para você planejar um pantanal melhor. Conhecimento nós estamos buscando cada vez mais, o importante é juntar todos os setores da sociedade, principalmente aqueles que se colocam de uma forma muito aguerrida contra qualquer inovação porque não há sentido. Nós temos que pacificar todos os lados aqui e pensar no que há de melhor para o pantanal”, disse.
Além de propor a formação de um grupo de trabalho, o governador ressaltou que a participação de toda a sociedade na discussão sobre as melhorias é fundamental para que no futuro não haja gastos para recuperar algo que poderia ter sido evitado.
“Para que a gente aproveite os bons exemplos, é necessária uma discussão com a ciência, com a academia, com a Embrapa Pantanal, que tem um estudo profundo, com os institutos do meio ambiente, estamos tratando já os dois estados, sentando na mesma mesa, os dois institutos do meio ambiente, do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, para os avanços nas questões de preservação do nosso pantanal. Para que não ocorra o que ocorreu na Flórida, onde hoje o governo americano tem que gastar US$ 50 bilhões para recuperar aquela área”, explicou.
Um dos exemplos apresentados durante o encontro é do pesquisador da Universidade de Angers (França) Pierre Cyril Renaud, que mostrou como foi possível unir sociedade, produtores e turismo de Basses Vallées Angevines, uma localidade perto de Angers, que é uma cidade de 200 mil habitantes, em uma única mesa e aplicar ações que beneficiaram a todos. Segundo ele, ter diferentes atores atuando em uma mesma área sempre vai surgir conflitos de interesses. “A ideia é deixar cada ator falar como eles usam esse tipo de território. O que eles querem e o tipo de recurso para ter a economia deles. E uma pessoa de fora consegue colocar o que tem em comum nesses três usos. Inclusive quando era o pasto, porque era ele que guardava a água, era ele que era a comida para o gado e é onde tinha todos os pássaros que faziam o ecoturismo”, ressaltou.
Renaud, explicou ainda que no pantanal há uma situação parecida, sendo que o pasto é de uso comum entre todos os participantes. “Ele é usado pela pecuária que é muito importante para a economia e cultura. Tem uma função ecológica muito importante para a biodiversidade, porque ele faz uma interligação entre as florestas e permite aos animais se movimentarem e também há esse pasto que controle as enchentes. Embora pelo tamanho, a situação é quase a mesma. Se a gente coloca todo mundo em volta da mesa e não tentar convencer um ou outro, mas deixar todos falarem e depois achar a função ecológica que é comum entre todos. A ideia não é separar, é agregar o valor de uso no mesmo território com manejo adequado”.
Os produtores locais possuem ainda incentivos governamentais para cuidar do ambiente do Pantanal francês. O pesquisador explica que o fazendeiro que possui um determinado selo pode vender o produto diretamente ao comprador, que é quem paga pelo serviço ambiental porque o dono da terra aceitou o manejo sustentável. Há também incentivo da cidade de Angers que compensa o agricultor por guardar as águas fora da cidade e tem o incentivo nacional, onde é assinado um plano de manejo sustentável dessa área onde ele recebe um pagamento por hectare se o produtor realizar o corte da plantação mais tarde.
O presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALMS) Junior Mochi enfatizou a importância de um evento como este para o debate em todos os níveis sobre a preocupação ambiental. Para ele, não falta reconhecimento, defensores e protetores e estudos para alertar da importância da preservação dos recursos naturais. O planejamento de políticas públicas voltadas a alcançarem a região e seus aspectos econômicos, sociais e ambientais é fundamental para evitar garantir resultados, otimizando recursos humanos e financeiros. “Os debates de hoje que se estenderão amanhã, em Cuiabá e em Brasília, certamente terão este norte. Esta casa, orgulhosa de realizar o primeiro seminário sobre o Pantanal, reafirma seu compromisso com esse importante bioma”, disse.
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